Ulisses e as Sereias (William Waterhouse, 1891)
A pintura "Ulisses e as Sereias" (William Waterhouse, 1891) ilustra um dos episódios mais famosos do grande poema épico do Século VIII a.C., atribuído a Homero, conhecido como o "Canto da Sereia", nas jornadas do herói grego Odisseu (ou Ulisses, em latim). Nesse episódio, as sereias, seres marinhos metade mulheres e metade pássaros, encantavam as embarcações com seus cânticos sedutores, levando-as a colidir com as rochas e, consequentemente, devoravam os marinheiros desavisados que navegavam próximo a uma das ilhas do Mediterrâneo.
Ulisses percebeu a atração fatal que as sereias exerciam e instruiu seus companheiros a taparem os ouvidos com cera para não serem enfeitiçados. Ele mesmo se amarrou fortemente ao mastro da embarcação, ordenando que não o soltassem, não importasse o argumento, para que pudesse apreciar a beleza do canto sem ceder ao encanto.
Ao analisar este episódio no contexto das várias interpretações possíveis, o canto das sereias representa as ilusões capazes de nos seduzir, podendo nos conduzir à um triste desfecho. No entanto, demonstra também que podemos desenvolver estratégias de autocontrole para lidar com essas ilusões. Sem tais estratégias, corremos o risco de nos prejudicar (ato simbólico de tampar os ouvidos). Embora fugir seja uma opção, confrontar as ilusões com discernimento nos capacita a avaliar e decidir de forma consciente.
Nossa vulnerabilidade em momentos difíceis nos torna suscetíveis a momentos de loucura passageira. Encarar a realidade como ela é pode não ser tão atrativo quanto as ilusões, mas previne que nosso "barco da vida" se despedace nas rochas da realidade. Projetar carências pessoais em outras pessoas ou situações cria uma ilusão sedutora, desconectada da realidade. Aceitar nossa verdade e usar isso como ponto de partida para decisões e estratégias nos fortalece.
Assim como Ulisses, todos somos heróis em nossa própria jornada. Podemos usar nossa inteligência, habilidades e força de vontade para navegar pela vida. Embora muitas coisas pareçam irresistíveis, precisamos analisar as consequências e estar preparados para enfrentá-las.
Ninguém é perfeito ou tem a vida perfeita. Na vida, enfrentaremos diversas situações que demandam decisões. Refugiar-se na ilusão e negar a realidade pode levar a perdas relevantes e também sobrecarregar aqueles que estão conosco nessa jornada. Desenvolver autocontrole exige autoconhecimento para resistir a impulsos que levam a excessos prejudiciais, como compras compulsivas, exageros alimentares e vícios destrutivos, os quais apenas mascaram a realidade com ilusões momentâneas. Vivemos cercados por "cantos de sereias" de todos os lados, e cabe a nós nos protegermos para enfrentar nossa subjetiva realidade de maneira saudável. Quando confrontados com fortes ventos de ilusões, devemos nos amarrar ao mastro da razão e resistir, tal como Ulisses fez. Ao fazê-lo, navegamos com sabedoria pelas marés enganosas da vida.
A orientação de um profissional da área de saúde mental pode revelar-se um farol valioso, capacitando-nos a navegar com coragem e clareza pelas águas tumultuadas da vida, para que estejamos mais preparados, não apenas para resistir aos encantos das ilusões, mas também transformar esses desafios em oportunidades de crescimento pessoal.
AUTORIA: SILVANA LANCE ANAYA - Psicanalista (CNP 5706025.89/RJ) e Psicoterapeuta Psicodramatista, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica, Pós-graduada em Psicologia, Nutrição e Transtornos Alimentares -MBA em Coaching - Bacharel em Administração de Empresas - Jornalista (Mtb 75200/SP)
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