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QUE DOR É ESTA?

Que dor é esta? É uma angústia no fundo da alma que muitos definem como um aperto no peito. Uma aflição que abre fendas, agride as entranhas, sufoca, que consome e magoa profundamente parecendo não ter fim. Quem é que já não se sentiu traspassado pela lâmina da dor?
A dor de uma perda, da partida, da rejeição, da decepção, da espera, da injustiça, do fracasso, da incerteza, da solidão, do arrependimento, do inconformismo, do desespero, da culpa. Dores que advém de tragédias pessoais e sonhos despedaçados nos deixando quase desfalecidos em estado de perplexidade, solidão e incompreensão.

Dói quando não conseguimos enxergar uma saída, quando nos sentimos desamparados não conseguindo acreditar na própria força e muito menos no amanhã. Dói também quando protegidos atrás de uma máscara de onipotência não expressamos sentimentos por receio de deixar transparecer nossa humana vulnerabilidade.

 

Assim, dores de todo tipo vão se instalando e de alguma forma vamos permitindo que fiquem, desenvolvendo até mesmo uma espécie de relacionamento com elas, cultivando-as e amordaçando assim o prazer da vida que se ofusca e parece se definhar aos poucos...

 

A dor também pode ser uma incômoda mensageira, e para não enfrentá-la, fingimos não entender sua linguagem fechando os olhos e os sentidos, então o corpo adoece tentando utilizar outra expressão, instigando para que olhemos pra dentro.

 

E as dores se acumulam, tornando-se um fardo pesado que vamos arrastando pela estrada da auto piedade. Dores que podem nos remeter a um estado de inércia como se a vida em nós deixasse de existir, embora lá fora ela continue seu fluxo sem ao menos diminuir o ritmo para que possamos enxugar nossas lágrimas. E a dor se transforma em feridas, que infeccionadas necessitam de cuidados, sentimentos que precisam ser remexidos, dissecados e elaborados para então abrandados, não permitir que a mágoa se instale. Mas como explicar, o quanto certos acontecimentos nos afetam embora pareçam irrelevantes para outros? Como falar sobre uma dor que ninguém vê e que diante de tantas catástrofes e desgraças alheias parece até mesmo uma bobagem?

 

A dor não é genérica, ela tem um valor individualizado. Uma mesma situação é capaz de produzir dores em graus diferentes nas pessoas, e em alguns ela pode atingir um grau de melancolia difícil de suportar levando à depressão. Jamais podemos subestimar a dor do outro e a sua capacidade suportá-la. Devemos sempre respeitar a dor alheia porque independente do motivo, para quem sente, a dor é de verdade e cada um tem também o seu próprio tempo para superá-la. Só temos que estar atentos para não nos entregar a uma dor qualquer ou permiti-la por mais tempo do que o necessário, como se sentíssemos alguma espécie de prazer em cultivar espinhos!

Quando estamos machucados até na alma, deixamos de acreditar nas pessoas. Em sofrimento, julgamos até que estas não nos tratam bem, mas também não percebemos nossas atitudes pra com elas reagindo com conduta de irritação e cometendo excessos. Outras vezes, delegamos ao outro a responsabilidade pelo nosso martírio, utilizando o sofrimento até como uma espécie de punição. Decidimos deliberadamente que alguém tem que pagar por isto e não nos damos conta de que esta punição está sendo consentida em nós mesmos! Nesta mágoa nos tornamos pessoas difíceis e amargas e ninguém consegue se aproximar de nós, porque desconfiados, achamos que todos querem nos prejudicar. Parece até que estamos sofrendo, morrendo e ninguém se importa conosco! Temos até mesmo a impressão de que alguém se diverte com isto, enquanto na verdade, as pessoas olham pra nós e se perguntam: porque ela não para de se machucar? Porque se permite a isto?

Pois é, às vezes lamentamos o tempo todo e nem percebemos que na realidade, não é que as pessoas nos machucam muito, mas nós é que consentimos isto ou então estamos sensíveis demais, acreditando até que a nossa dor é a maior do mundo e que ninguém entende isto!

Uma terapia pode atuar como um instrumento facilitador, auxiliando na transformação da angústia em sentimento humano comum e suportável, mas é a própria pessoa quem tem que querer realmente superar e acionar a força de partida.O passado não tem que ser esquecido, podemos revivê-lo apenas para entender e transformá-lo, atualizando-o e criando assim novas significações, evitando que experiências dolorosas se transformem em mágoa ou em dor que se relaciona com culpa que na procura de um castigo se pune novamente com a dor, voltando a infeccionar e a incomodar, entrando no ciclo de ressentimento (sentir a dor novamente!).

 

Vida é constante aprendizagem, e nas lições a dor também se faz presente como um instrumento importante para nos fazer crescer. Não temos controle sobre como a vida nos afeta, mas podemos desenvolver o equilíbrio no controle de nossas reações, admitindo que às vezes exageramos sim, e que em outras vezes, a dor não é exagero, dói mesmo! E quando dói, temos que deixar rolar a lágrima que se propõe a limpar a dor, para então fortalecidos nos levantar e reencontrar a plenitude da vida. Afinal esta continua, e existem pessoas ao nosso redor esperando que retomemos o caminho, que mesmo sofrendo conosco para que possamos aprender a nossa lição não ficaram magoadas ou desdenharam de nossas dores, mas compreenderam nosso momento e nossa aflição até mesmo em respeitoso silêncio, nos confortando e guiando num momento onde tudo é escuridão. Jamais devemos permitir que uma dor nos dilacere a ponto de querermos desistir e para tanto, temos que resistir firmemente!
 

E assim, ficamos tão centrados em nossas próprias dores que não enxergamos a dor do outro e nem o tempo que se esvai com nossas vidas e suas tantas possibilidades.

 

Deus nos deu instrumentos suficientes para que enfrentemos e suportemos corajosamente a dor. E se podemos escolher enfrentá-la porque não tentar? Certamente isto não é fácil, principalmente quando esta nos dilacera por dentro, mas ao invés de ficarmos pensando no quanto a vida é injusta, se temos que passar por isto, que possamos utilizar nossas forças e enfrentar corajosamente, pois ninguém vai poder sentir nossas dores, tomar decisões ou aprender lições que são nossas e muito menos viver a nossa vida! Vamos assumir ao invés de ficarmos emperrados nos lastimando do porque, ao invés de seguir e tentar descobrir pra quê.

 

Não podemos simplesmente cruzar os braços e agonizar nos afogando em lágrimas à espera de que um dia nos sintamos bem deixando as portas abertas para doenças, temos que nos forçar a lutar pra sair disto! E se para encontrar esta força dentro de nós precisarmos de auxílio, temos que deixar o orgulho e o preconceito de lado.

A exemplo da natureza, que mesmo depois de uma terrível tempestade ou uma noite escura, sempre traz consigo o amanhecer e a esperança de um novo brilho que possui o dom de renovar a vida, uma ferida pode nunca cicatrizar, mas milagrosamente diminui seu tamanho nos permitindo novamente sorrir e acreditar que viver apesar de tudo é sempre um espetáculo imperdível!



 

AUTORIA: SILVANA LANCE ANAYA - Psicanalista (CNP 5706025.89/RJ)  e Psicoterapeuta Psicodramatista, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica, Pós-Graduada em Neuropsicanálise, Pós-graduada em Psicologia, Nutrição e Transtornos Alimentares - MBA em Coaching - Bacharel em Administração de Empresas - Jornalista (Mtb 75200/SP), Escritora

Direitos autorais: permitida a reprodução do texto ou parte dele desde que citada a autoria.

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