QUANTO DE NÓS EXISTE NAQUILO QUE PENSAMOS SER?
- Silvana Lance Anaya
- 25 de mai.
- 2 min de leitura

Nem sempre percebemos que vivemos distantes da nossa própria essência. Habitamos uma identidade mental, uma construção idealizada, moldada por expectativas, fantasias e memórias escolhidas, um personagem que criamos para sobreviver, pertencer e sermos aceitos.
Não raro, nos identificamos mais com o que gostaríamos de ser do que com quem, de fato, somos. Assim, instala-se uma incompletude silenciosa, fruto da dificuldade em encarar nossas sombras, limites e feridas. Esse “resto oculto” permanece à margem da consciência, formado pelos aspectos que evitamos: zonas obscuras que provocam desconforto, conflito e contradição.
Nossa experiência é constantemente filtrada pela subjetividade. Tudo passa pelo crivo dos afetos, traumas, desejos e medos. Interpretamos o mundo e a nós mesmos por lentes emocionais que nem sempre conseguimos perceber com clareza.
Quando nos afastamos demais de nós mesmos, surge um silêncio pulsante, uma voz abafada que habita nosso inconsciente e nos chama, e quanto mais ignoramos esse chamado, mais cresce a inquietação. Essa distância interna nos desestabiliza. Surge um mal-estar sempre que a identidade que sustentamos não se apoia em um alicerce real.
Somos seres em constante transformação, mas qualquer mudança exige um ponto de partida: uma base interna, o nosso “eu real”. Sem esse alicerce, tudo o que erguemos corre o risco de desabar, num rompante que pode ser libertador ou devastador.
Por sermos uma construção contínua, talvez nunca encontremos uma definição exata e imutável sobre quem somos. Ainda assim, possuímos uma essência. Por isso, é fundamental ouvir a própria voz, não como quem busca certezas, mas como quem se dispõe a explorar, questionar e acolher.
É preciso também reconhecer que até nossas verdades mais íntimas podem estar contaminadas, pois herdamos vozes, padrões e expectativas que, ao longo do tempo, aprendemos a tomar como nossas. Vozes que muitas vezes contribuíram para nos silenciar, conter e, muitas vezes, até a acreditar que nosso ser estava errado, algo a ser corrigido ou escondido sob camadas de idealização e que, pouco a pouco, encarceram nosso eu.
O mais importante é esse movimento de escuta. Ouvir a própria voz não como uma verdade absoluta, mas como um sussurro a ser investigado com abertura, coragem e questionamento.
Conhecer-se é, antes de tudo, ter coragem de encarar o desconforto de não ser exatamente quem idealizávamos. É permitir-se mudar, romper as amarras de uma identidade rígida e abrir espaço para aquilo que também nos compõe e que, muitas vezes, esquecemos de escutar.
Buscar autenticidade não é alcançar uma versão definitiva de si, mas abraçar a própria humanidade com suas verdades, contradições, limitações e imperfeições. É deixar de fugir e, enfim, escolher habitar quem se é, cultivando, a cada dia, a melhor versão de nós mesmos.
Silvana Lance Anaya (Psicanalista)
1198295-5720 WhatsApp (Presencial e Online)
Comentarios