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DOENTE DE ATENÇÃO? (VITIMIZAÇÃO)

Quantas vezes adoecemos e isto nos trouxe também uma atenção especial e nos sentimos bem com isto? Nosso corpo debilitado reclama nossa atenção e assim reclamamos também atenção de outras pessoas, o que é perfeitamente natural! Afinal, quem não gosta de carinho e atenção, principalmente quando não estamos bem? E certamente quem se preocupa conosco também se sentirá bem em doar este cuidado para que possamos nos restabelecer. 

O problema está em estender deliberadamente um quadro enfermo só para obter atenção e se sentir amado...

 

No intuito de driblar nossas inseguranças e obter atenção especial como prova de afeto, podemos nos sentir tentados a utilizar-nos de certas manobras. E isto não acontece apenas com enfermidades, mas também quando estendemos uma situação complicada, nos instalando confortavelmente nela e sem muito esforço de saída na ânsia de manter esta atenção.

 

Existem pessoas que ao falarem de seus problemas, estendem-se numa infinidade de lamentos com um sutil toque de satisfação e conformidade. Gastam um tempo razoável falando de seus problemas prazerosamente, e quando estes acabam, encontram outros e assim recomeçam o ciclo! 

 

É óbvio que não podemos banalizar um problema ou uma enfermidade se isto for uma situação real ou apenas uma situação passageira, na qual ficamos fragilizados e necessitando de apoio. O que está sendo exposto aqui é o fato de que existem pessoas que não têm interesse na sua cura ou na resolução de seus problemas, mas que prolongam um mal estar para sentirem bem estar! Controverso? Sim, mas por trás disso existe um ganho secundário que traz certos benefícios e vantagens ao portador de tal situação. 

 

Por outro lado, vale observar também que este ganho secundário pode ter a função de demonstrar emoções como raiva, tristeza ou então simplesmente a expressão de sentimentos que, conscientemente, a própria pessoa não tolera e nem consegue manifestar na fala, como carência, desamparo e a própria insegurança, ou ainda ser a manifestação de um pedido inconsciente de ajuda. Mas muitas pessoas, tornam-se conscientemente dependentes de condições adversas e, apoiadas na própria insegurança, encontram num jeito problemático ou doente de ser uma forma de manter o domínio sobre determinada situação ou alguém.

Apelando até mesmo à consciência e o sentimento de culpa do outro, contribuindo até mesmo para a piora dos próprios sintomas. Não raro, necessitam de provas e sacrifícios para acreditar que realmente se importam com elas, utilizando-se até mesmo de atos desesperados como a chantagem emocional na angústia de conservar o controle absoluto. 

 

Mas o tiro pode sair pela culatra, afinal tudo tem um limite! E quando este limite está sendo invadido por uma espécie de manipulação emocional, isto pode provocar em algum momento uma reviravolta e a própria pessoa perder todo o crédito, pois quem se perceber usado neste artifício como esteio da insegurança do outro, se sentirá ludibriado, e então, aborrecido e cansado, poderá ter a necessidade de dar um basta e libertar-se desta prisão imposta injustamente. 

 

Ninguém pode estar verdadeiramente bem se acha que tem que estar mal para se sentir especial e conservar pessoas à sua volta. É doloroso aceitar nossas fraquezas. Não é fácil confrontar e admitir pra nós mesmos certos fatos que teimamos fingir não enxergar. Necessitamos de uma boa dose de coragem e vontade própria neste processo. Muitos precisam também de ajuda, e mesmo assim, ainda tentam se apegar aos privilégios pessoais obtidos nesta situação, dificultando o auxílio e tendo tais ganhos como um potente obstáculo. Por fim, tentam até mesmo encontrar na pessoa que presta auxílio, um aliado no cultivo de sua aconchegante prisão, e apesar das queixas e do sofrimento verdadeiro, complicam situações até mesmo no intuito de uma justificativa real pra si mesmos camuflando assim o sentimento de culpa, colocando entraves ao tratamento e conseguindo com isso manter as atenções, principalmente da família. Mas até quando? 

 

É preciso dar um basta, pois não podemos nos acomodar em situações difíceis ou tentar estender um quadro doente para nos sentir valorizados. Temos que nos valorizar primeiro para que o outro nos valorize, pois se nos tratarmos como lixo como vamos querer que os outros nos aceite?

Temos que redescobrir a coragem para assumir nossa vida e enfrentar suas vicissitudes. Não podemos simplesmente utilizar tais escudos e justificativas para manter a atenção das pessoas, tentando com isto diminuir nossa insegurança ou camuflando nosso medo da humilhação de sermos rejeitados. Não podemos também nos apegar ao medo do fracasso utilizando tais situações como libertadoras de responsabilidades ou pressões que a vida nos coloca. Por medo do pior e apoiados em uma falsa segurança, até mesmo sem perceber nos deixamos ficar justamente onde mais tememos.

 

Em sã consciência, jamais podemos querer não estar bem! Temos que aprender a nos cuidar, respeitar e valorizar para que isto reflita positivamente, elevando-nos a um novo nível de compreensão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor, nos mantendo alertas para não cultivarmos espinhos ao invés de nos preocuparmos em florescer! Temos que pensar no que as pessoas fazem por nós e não nos fixar no que elas não fazem, porque talvez elas estejam fazendo o seu melhor.

Temos que aprender a respeitar o momento de cada um sem ficar impondo provas de afeto ou criando expectativas demais, afinal, ninguém merece viver em conflito consigo mesmo tentando se ajustar ao outro.

É necessária uma boa dose de maleabilidade de todas as pessoas envolvidas para que ninguém se sinta sugado em suas energias. Além do mais, cada um tem sua própria vida para cuidar e se não cuidarmos bem dela, como vamos ajudar a cuidar do outro? Todos nós em algum momento precisamos um dos outros e temos que estar bem para nos doar também quando preciso for. 

 

Cada um possui dentro de si uma incrível força depositada pelo Criador, mas muitas vezes preferimos acreditar que precisamos dos outros para nos carregar, quando tudo o que precisamos é nos apoiar em nós mesmos para vê-la surgir.

Aliás, com todos os nossos poderes e recursos, é preciso mais força pra se deixar carregar do que para lutar por si mesmo! Precisamos nos empenhar nesta energia e utilizarmos toda nossa capacidade no sentido de nos mantermos o melhor possível.

 

Temos que assumir a vida que nos foi presenteada com tudo o que há nela e fazer o nosso melhor para usufruí-la! E isto, não significa permanecer em uma incômoda e imatura dependência emocional, sem nos preocuparmos em crescer, permanecendo assim à sombra do outro. Não podemos nos sujeitar à sombra de uma existência, quando possuímos o nosso próprio e incomparável brilho.

Temos que nos bastar e assumir o brilho que nos pertence para resplandecer, e assim com a nossa experiência, ajudar também outras estrelas a reencontrarem seu verdadeiro e esplendoroso brilho, formando assim uma constelação preciosa de vidas! 

 

AUTORIA: SILVANA LANCE ANAYA - Psicanalista (CNP 5706025.89/RJ) e Psicoterapeuta Psicodramatista, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica, Pós-graduada em Psicologia, Nutrição e Transtornos Alimentares -MBA em Coaching - Bacharel em Administração de Empresas - Jornalista (Mtb 75200/SP)

*DIREITOS AUTORAIS

 permitida a reprodução do texto ou parte dele desde que citada a autoria

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