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CRIANÇAS PROBLEMÁTICAS?

As doenças psiquiátricas estão cada vez mais frequentes em nossa sociedade e isto até mesmo no mundo infantil onde crianças correm o risco de se tornarem vítimas de um diagnóstico incorreto, medicadas sem uma necessidade real. O mais inquietante é que as pesquisas ainda não sabem dizer quais os danos causados à saúde infantil em longo prazo. Muitas delas são medicadas desde uma simples falta de atenção, "mau" comportamento e principalmente para o tratamento da TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) que, aliás, parece até que virou uma epidemia dos tempos modernos.

 

Será que muitos de nós, adultos saudáveis e com nossas boas lembranças das diversas travessuras da infância seríamos hoje sérios candidatos a psicoativos para nos aquietar? Porque será que crianças estão cada vez mais cedo (até bebês!) nos consultórios de psicanalistas, psicólogos, psiquiatras?

Cada caso deve ser estudado minuciosa e particularmente, pois envolvem subjetividades diversas. Cada criança é única em suas características e o ambiente em que vive, e é neste ambiente que ela aprende a se relacionar com o mundo, numa espécie de estágio exercendo seu ser.

Na questão do mau comportamento, lidar com os apelidados de "pestinhas” não é nada fácil e chega a ser desgastante para muitos. É preciso, sim, muito autocontrole e paciência, mas nem por isso essas crianças devem ser vistas como portadoras de um distúrbio ou transtorno. É preciso analisar minuciosamente se há um conjunto de sintomas e o grau de prejuízo destes. Um comportamento inadequado pode surgir pela necessidade da criança de chamar atenção para si mesma, quando algo no ambiente em que vive a está atingindo.

Quando uma criança, que já sendo vista como problemática começa a gerar conflitos constantes, principalmente no ambiente escolar, muitos pais entram em justo desespero e procuram ajuda. Muitos deles, na ânsia de resolver o problema aliada à falta de tempo, não estão dispostos a perder tempo em tratamentos alternativos e mais demorados, assim, encontrando um profissional que faça um diagnóstico e indique uma medicação alguns se sentem até aliviados, mantendo a criança sob controle (anestesiada) sem que isto cause maiores aborrecimentos.

 

Mas e os efeitos colaterais? E quanto à saúde e bem estar da criança? Não seria mais viável e justo esgotar primeiro todas as possibilidades de tratamentos alternativos antes de partir para o uso de drogas psiquiátricas?

É extremamente importante não esquecer também que um comportamento infantil alterado pode ser um sintoma familiar, ela pode estar se sentindo insegura, captando algo neste ambiente que a está afetando.

Seja qual for o tratamento escolhido, é muito importante que os pais também participem e procurem resolver seus próprios conflitos em terapia, do contrário, estarão apenas controlando o sintoma (criança) e não tratando a causa real.

 

É preciso uma avaliação do ambiente familiar na questão do relacionamento e dos limites impostos à criança, pois muitas delas agem de forma desordenada por se sentirem perdidas porque os pais perderam o controle da situação e não conseguem impor normas e nem limites. Muitas delas passam tempo demais sem contato com os pais e estes podem estar delegando à escola ou a outra pessoa a função de educar, o que é um equívoco. A criança precisa de um tempo mínimo da atenção de seus pais.

Devemos refletir sobre esta relação de família. Será que não estamos perdendo facilmente a paciência com nossas crianças pelo estresse aliado à falta de tempo e optando por ações de controle egoístas para o nosso próprio bem estar? Será que não estamos impondo às crianças um estilo de vida muitas vezes maluco ou cheio de obrigações com pouco tempo para brincar em nome de uma competitividade que desajusta seus pensamentos e sentimentos se convertendo na resposta de ações inaceitáveis? Será que estamos respeitando sua individualidade, ouvindo suas opiniões, queixas, sugestões e escolhas, deixando que participem ativamente da família? É preciso comunicação!

 

Mesmo um bebê (desde o ventre) vai captar do jeito dele que o amamos em qualquer situação. Mesmo pequenas, as crianças estão atentas a tudo e podem perfeitamente compreender se lhes dissermos. São coisas simples, mas fundamentais. É essencial que a criança (não importa a idade) seja informada e saiba por que algo está acontecendo, seja uma mudança de escola, de casa, quando é deixada no berçário, uma ida ao dentista, médico, quando está para iniciar um tratamento ou qualquer outra situação, assim ela se sentirá importante e segura, se sentindo parte real e visível da família.

Enfim, são diversas situações nas quais as crianças podem estar se sentindo excluídas, não só no ambiente mas também em relação ao amor dos pais que talvez não lhes digam suficientemente o quanto as amam. Elas precisam ouvir! Precisam de beijos e abraços! Precisam de demonstrações de afeto, não importa a idade. Precisam que os pais reguem sua autoestima.

É preciso ação no sentido de resolver o problema e não apenas mascará-lo. É preciso responsabilidade dos pais e profissionais para que não apresentem às crianças a farmacologia do alivio imediato sem que realmente seja necessário.

 

Talvez, tudo o que a criança precise é de um ajuste de suas emoções através de mais compreensão, atenção e carinho das pessoas que com ela convive. É preciso tentar, ou estaremos correndo o risco de ensinar às nossas crianças um caminho de fuga fácil mas extremamente vazio fazendo com que muitas delas deixem de vivenciar sentimentos tornando-se assim adultos com dificuldades em aceitar e organizar suas emoções.
Cada um do seu jeito, deve aprender sua preciosa lição que contribuirá na sua estrutura.

Lá no futuro estas crianças não vão se lembrar que seus pais pouco contato tinham com elas porque estavam ocupados demais construindo seu futuro, elas apenas vão se lembrar da carência e do quanto isto fez falta na construção de seu ser, nas lacunas vazias de uma lição em branco, amortecida pela moderna farmacologia, ao invés de mais afeto e compreensão.

Muitas vezes nós é que somos os problemáticos, e na falta de resolução de nossos próprios conflitos, evitando olhar para nós mesmos transferimos para nossas crianças este peso e ainda a subjugamos a tratamentos desnecessários. Afinal, como estamos reagindo diante de situações cotidianas? Estamos dando bons exemplos? Somos como um espelho para elas.

 

É preciso olhar em seus olhos para assim aprender da sua simplicidade, espontaneidade e amor incondicional e para isso, temos que nos curvar na altura delas para assim nos elevarmos perante a vida, num resgate de nós mesmos.

Ainda há tempo, pois a vida nos presenteia a cada manhã com um novo dia, quando podemos aprender preciosas lições da sábia inocência infantil, antes que elas cresçam...

AUTORIA: SILVANA LANCE ANAYA - Psicanalista e Psicoterapeuta Psicodramatista, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica, Pós-graduada em Psicologia, Nutrição e Transtornos Alimentares - MBA em Coaching - Bacharel em Administração de Empresas - Jornalista (Mtb 75200/SP)

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Permitido a reprodução do texto ou parte dele desde que citada a autoria.

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