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A PONDO DE CHUTAR O BALDE?

Que atire o primeiro balde quem em alguns dias não olhou para sua vida e pensou que o melhor mesmo seria encher um grande balde com tudo o que puder e dar um belo chute pra bem longe! Tal atitude pode até soar como uma solução mágica que pode fazer desaparecer tudo aquilo que nos desagrada, mas principalmente quando não se tem um bom respaldo é preciso prudência, pois entre o pensamento e a ação deve existir um momento de hesitação para que possamos refletir nos impactos de tal atitude, reduzindo assim as chances de que um ímpeto de coragem se transforme em decepção e arrependimento!

 

Em nosso dia-a-dia, estamos sujeitos a chutar pequenos baldes sem grandes consequências, alguns podem nos causar algum desconforto e outros até consertar uma situação que já estávamos aguentando por algum tempo, o impacto depende do tamanho do balde e do que está dentro dele.

 

A todo momento em algum lugar, pessoas estão chutando baldes, algumas o fazem porque estão com raiva, nervosas, porque pensam que esta é a única solução, por desabafo ou intolerância, porque estão infelizes, por insatisfação ou cansaço e até porque concluíram que esta é a melhor saída. Mas chutar o balde não é garantia de felicidade, principalmente, quando nesta atitude está contida uma emoção momentânea aflorada e desequilibrada, o que implica em colocar em risco conquistas e relacionamentos além de criar situações complicadas e difíceis de reverter.

 

Somos feitos de emoções e muitas vezes elas emergem de forma intempestiva diante de situações limite ou que nos atingem subitamente nos fazendo chutar o que nos incomoda junto com outras coisas que estiverem por perto e que num momento de raiva ou apatia parecem não fazer a mínima diferença.

 

Temos que tomar cuidado quando o que move esta vontade se torna tão insuportável a ponto de sugerir que esta seja a única solução viável, pois tal atitude pode ser equivalente a uma tempestade que devasta também o que não deveria, portanto, mesmo que em alguns momentos a vontade seja muito forte, temos que aprender a conter a impulsividade para não sairmos pela vida afora chutando tudo o que nos incomoda movidos só pelas emoções, afinal, somos seres racionais com capacidade de pensar, decidir e aprender, portanto, podemos e devemos utilizar estes dons.

 

Somos humanos e é inevitável que em alguns momentos estaremos sujeitos a nos sentir péssimos e com uma enorme vontade de fugir de tudo o que nos incomoda, mas se em toda crise chutarmos o balde, pouco ou nada conseguiremos preservar daquilo que construímos e ainda estaremos perdendo a oportunidade de enfrentar corajosamente situações adversas onde nossa capacidade de superação é testada nos tornando mais fortes e mais experientes.

Muitos pensam em chutar o balde da vida quando se deparam com um incômodo vazio, como se tivessem esquecido de si mesmos, e ao acordarem sentem falta da individualidade que não cultivaram e do que poderiam ter feito para se sentirem mais úteis e felizes consigo mesmos, ou então descobrem que se deixaram levar como um barco a deriva por não saberem o que realmente queriam, assim sentem-se arrependidos, infelizes e questionam suas escolhas achando que tudo poderia ter sido diferente e melhor se não tivessem sido tão relapsos consigo mesmos.

 

Outros, profissionalmente sentem-se cansados e sem nenhum desafio, e em muitos dias torcem para aguentarem firmes e não chegarem ao apelo do chute porque no dia seguinte certamente estarão arrependidos! Aqueles que escolheram um caminho pensando apenas no lado financeiro ou na notoriedade podem descobrir que preferiam estar ganhando menos dinheiro com mais qualidade de vida, pois a pressão e tudo o que vai em troca do suposto conforto do qual nem podem usufruir é quase insuportável tornando-os escravos de conquistas e prazeres vazios que os mantém presos a uma teia de insatisfação com conceitos de “tenha isto para parecer aquilo” numa tentativa de provar a alguém ou ao mundo que são exemplos de vencedores, mesmo que lá no fundo se sintam frustrados e amargurados se perguntando o sentido disso tudo.

 

Às vezes o que move esta intensa vontade de chutar o balde pode ser uma incrível sede de mudança, e dependendo do momento em que estão, muitos nem avaliam se esta é para melhor ou pior, pois estão tão estressados ou apáticos necessitando desesperadamente de uma nova motivação que depositam no balde a esperança de uma mudança que reverta o sentimento interno de insatisfação, o que até pode acontecer em um primeiro momento mas com grande risco de voltar a estaca zero e ainda pior se não souberem lidar com os resultados.

 

Muito do que nos traz insatisfação pode estar apenas precisando de reajustes ou um pouco mais de cuidado, ou então nós mesmos é que precisamos mudar ou apenas olharmos a mesma realidade de um foco diferente (e muitas vezes surpreendente), o que significa trocar o olhar sem precisar arrancar os olhos! Não se trata de mágica, mas apenas mudança de comportamento em relação aquilo que parece imutável.

Em qualquer situação, o passado não pode ser mudado, mas a vida é feita de tentativas e também podemos sempre recomeçar ou consertar muitas coisas, o que não podemos é desistir, pois sempre existem alternativas, é nossa responsabilidade buscá-las e permanecermos atentos para não desperdiçar oportunidades.

Nas diversas fases da vida e de nós mesmos, podemos sempre fazer uma pequena pausa para avaliação levando em conta nossos valores, equilíbrio e tudo o que nos faz bem, tarefa esta que não pode ser delegada a outra pessoa, pois ninguém terá a visão e o sentimento que temos em nossa própria vida.
Nunca teremos tudo e é preciso fazer escolhas, e mesmo partindo da decisão de chutar o balde numa atitude planejada ou em arriscada tentativa, o importante é que cada um esteja ciente dos riscos, fazendo aquilo que sente lá no íntimo que deve fazer.

 

Ninguém passa pela vida impune, estamos sujeitos a sofrer tanto pelas ações como pela falta delas. Cabe a nós sempre refletir e decidir o que arriscar, nos responsabilizando e não atribuindo sempre a um castigo divino os resultados negativos frutos de tentativas de acertos, falta de atitude, omissão ou medo de tentar.

O futuro chega todos os dias com o desconhecido que logo se torna passado. A única coisa que realmente temos de concreto é o momento presente que parece se modificar a cada batida do coração! Não é fácil aceitar que não possuímos o controle e que a vida é um constante risco, mas a nós cabe apenas viver da melhor forma possível.

AUTORIA: SILVANA LANCE ANAYA - Psicanalista (CNP 5706025.89/RJ)  e Psicoterapeuta Psicodramatista, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica, Pós-graduada em Psicologia, Nutrição e Transtornos Alimentares -MBA em Coaching - Bacharel em Administração de Empresas - Jornalista (Mtb 75200/SP)

Direitos autorais: permitida a reprodução do texto ou parte dele desde que citada a autoria.

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