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ARTE E VIDA: UMA INCRÍVEL JORNADA DE IMPERFEIÇÃO E BELEZA

Foto do escritor: Silvana Lance AnayaSilvana Lance Anaya

O pintor tem o Universo na sua mente e nas suas mãos. (Leonardo Da Vinci)


O maravilhoso afresco de Leonardo Da Vinci "A Última Ceia" exposto na parede do antigo refeitório da igreja de Santa Maria delle Grazie em Milão/Itália, nos traz a oportunidade de refletir sobre a sua surpreendente história. Num primeiro impacto a obra pode até causar um inevitável pensamento simplista de que um grande gênio cria sua maravilhosa arte como uma magia, a qual atravessa intacta o tempo e se torna exemplo de uma perfeição inigualável e perpétua.


Tudo carrega uma história, e nesta belíssima obra, a escolha da cena, a forma geométrica e a expressão no rosto de cada personagem são detalhes que sugerem um estudo minucioso do artista na pretensão de dar o seu melhor e suscitar reflexões profundas no observador. Na criação desta arte, o perfeccionismo de Leonardo Da Vinci o levou a inovar com uma técnica de pintura que não fixasse o pigmento rapidamente, permitindo-lhe mais tempo para concluir detalhes. No entanto, infelizmente, a deterioração da obra começou pouco tempo depois, agravada por fatores como um rio subterrâneo e a fumaça que emanava do refeitório. Ao longo do tempo, a obra também sofreu duros golpes durante o domínio de Napoleão Bonaparte e também na Segunda Guerra Mundial, deixando-a exposta às intempéries do clima. Posteriormente, em meio à uma reforma no convento, uma porta foi aberta justamente na parede onde ela se encontrava, extinguindo para sempre uma parte do afresco onde se encontravam os pés de Cristo. A última longa e bem-sucedida restauração aconteceu em 1977, a qual durou décadas, mas retirou todas as camadas de tentativas anteriores de restaurações que haviam prejudicado intensamente a originalidade da mesma.


Enfim, seja ou não verdade exata tudo o que se refere à resistência quase milagrosa desta magnífica obra, ela não é apenas uma beleza exposta, não é apenas o que vemos ou o que supomos, ela contém um relato, um caminho de sobrevivência construído ao longo de tantos acontecimentos desde que foi criada em meados de 1495-96.

Desvendar a narrativa oculta por trás de uma história nos permite reavaliar nosso olhar inicial, muitas vezes superficial, ampliando nossa compreensão e perspectiva.

Em um mundo que valoriza as aparências, sentimos a pressão de nos alinhar a padrões sociais que frequentemente destacam apenas os aspectos positivos ou bem-sucedidos. Cada um expõe sua história de forma seletiva, e o espectador acaba ignorando a realidade, o percurso e os sentimentos envolvidos. Nessas circunstâncias, tendemos a fazer julgamentos e comparações injustas, baseadas em deduções superficiais. E quando nos falta amor-próprio, acabamos por nos diminuir, ignorando nossa trajetória, que é tão única e singular.

Nossa vida é nossa obra, e, independentemente de comparações, ela reflete tudo o que temos e o que estamos dispostos a fazer de melhor, dentro das variáveis que nos cercam. Mesmo que aos olhos dos outros ela possa parecer perfeita e descomplicada ou, na imperfeição exposta suscitar críticas, apenas nós sabemos o quanto investimos em esforços, perdas, tentativas e reparações, entre tantas camadas de suor e lágrimas em meio às situações que nos atingem ao longo da vida, muitas delas prejudicando nossa originalidade e nos distanciando de nós mesmos.


Assim como "A Última Ceia" de Leonardo Da Vinci continua sendo incrível, tanto por sua história quanto pela obra em si, mesmo incompleta e imperfeita, nossa vida, apesar de acontecimentos e perdas irreparáveis, também não perde sua importância e beleza.

Devemos ter a consciência de que somos meros aprendizes nesta jornada, onde inevitavelmente cometeremos erros em meio às tentativas de acerto, mas com a oportunidade de aprender com eles. E para os mais atentos, as narrativas alheias também oferecem preciosas lições, não apenas ao nosso redor, mas também ao longo da história.


Somos seres únicos, com uma vivência incomparável, enfrentando as mais variadas circunstâncias que exigem decisões subjetivas, muitas vezes incompreensíveis ao outro. Como artistas de nossa própria história, nem sempre dispomos das ferramentas ideais e ainda temos que conviver com incertezas e tentativas frustradas. O mais importante é sempre fazer o nosso melhor, abraçando nossa originalidade, que inclui nossa imperfeição, resiliência, autocompreensão e amor-próprio. Não podemos permitir que os acontecimentos ofusquem ou escondam nosso verdadeiro eu sob camadas de inseguranças, medos, traumas não resolvidos e a pressão de atender às expectativas dos outros, distanciando-nos de nossa essência e do que realmente somos.


Nossa vida é a nossa obra, ela é a história que contamos ao mundo. É o retrato de uma aventura que se desenrola entre esboços, retoques e restaurações, delineando um caminho que se cruza com tantos outros nos caminhos da vida. Façamos dela um relato digno de ser vivido.


SILVANA LANCE ANAYA  é Psicanalista (CNP 5706025.89/RJ), Psicodramatista, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica, Pós-graduada em Neuropsicanálise, Pós-graduada em Psicologia, Nutrição e Transtornos Alimentares, Master of Business Administration em Coaching, Bacharel em Administração de Empresas, Escritora e Jornalista (MTb 75200/SP).

 
 
 

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